Por trás da parafernália tecnológica, eis que surge o homem das cavernas. Urra como uma fera primordial, mas também berra como um bezerro de qualquer quintal. O concreto fervendo sob o sol inclemente queima-lhe a pele. O mármore frio obstrui seus movimentos bruscos, quebrando-lhes os ossos. Mas ele não morre, sobrevive. Por que é eterno. Ele está aqui com seu corpo milenar e desavergonhado, para nos lembrar da carne. Dos ossos, dos fluídos, das substâncias que compõem um ser vivo. Carrega em si a sujeira e a memória dos lugares mais remotos, onde germinam e apodrecem os corpos. Às vezes expele palavras desconexas, mas mesmo assim, arrebanha seguidores. É ele que os vai levar para aonde o sangue corre, sem parar, nas veias. E quando jorra, jorra feito uma fonte deslumbrante. Embriaga-se de qualquer líquido que lhe cai as mãos. Quando com fome, come dos outros e de si mesmo, a carne. Adora flores, deita-se em excrementos. Não há lógica em seus atos. De seu ventre não param de brotar criaturinhas que impõe suas existências, ignorando teimosas, a inconveniências delas. Em volta dele voam estranhos insetos. Como se anjos fossem, parecem querer anunciar algo. Uma revelação. Mas que revelação? Apenas que ele existe, este corpo que aí está. Que não se sabe se é feio ou bonito, se vai matar ou cantar e dançar. Quem sabe tudo ao mesmo tempo. Agressões afetuosas, crueldade inocentes, exército de genitálias sem comando, desordem e regresso. Desordenadamente regressa feliz ao útero da terra. Lama que acaricia e aquece. Não quer o mármore, o aço inoxidável. Prefere a dor do espinho que penetra no pé descalço. Pés que carregam este insistente corpo através dos tempos.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Juliano, aqui é Claudia Góes. Mande-me seu contato email, tel etc. OK? Beijos!
Postar um comentário